Que fundamentos proporcionam qualidade na relação entre sócios?
- Paulo Muro*
O alinhamento de sócios fortalece a
confiança e possibilita profundidade, significado e efetividade do acordo de
sócios.
As relações entre sócios, familiares ou não, invariavelmente
ganham importância e se tornam vitais aos participantes de uma sociedade.[1]
Isso por que ela representa a forma de realização de um sonho ou de um ideal ou
ainda a visualização de um futuro desejado.
Há muito mais em jogo
do que simplesmente ganhar dinheiro com a operação de um negócio. As relações
são normalmente delicadas e, portanto, representam questões que justificam
considerável atenção.
Tratar de uma sociedade é um momento importante porque atrás
do entusiasmo de criar ou remodelar uma empresa, está o verdadeiro sentido do
negócio pelo qual as pessoas se juntaram como sócias. É necessário ler o que
esse entusiasmo natural quer dizer. Há sutilezas que muitas vezes ficam
despercebidas. Refletir sobre o que trouxe cada um à sociedade ajuda fortalecer
o grupo de sócios em torno de algo realmente grande, o que possibilita
realização e satisfação como o verdadeiro sucesso.
Deve existir um razoável equilíbrio entre a perspectiva
racional e a emocional. É necessário observar a racionalidade das relações
entre sócios que estabelecem os aspectos lógicos e cognitivos que vão dar
objetividade ao relacionamento e ao negócio. Mas as relações de sociedade, como
são todas as relações, estão permeadas de sentimentos e subjetividades que
determinam a qualidade dos relacionamentos.
Além disso, é preciso considerar algumas dimensões que levam
cada um a querer, ou não, fazer parte de uma sociedade.
· A dimensão da necessidade material, que diz respeito a ganhar dinheiro. Associada à remuneração financeira pelo trabalho ou pela participação nos resultados. Satisfazer necessidades físicas e materiais para a sobrevivência, a segurança, o conforto, a conveniência, etc.
· A da atuação prática que se relaciona com a dedicação, com a oportunidade de expressar habilidades e conhecimentos e manifestar contribuições ativas na sociedade.
· A do pertencimento, que satisfaz a necessidade de fazer parte, de pertencer a grupos. Também de sentir que é reconhecido como membro legítimo e contributivo no grupo de sócios.
· E a da identidade, que faz com que o indivíduo se identifique com o grupo no qual está inserido, que possa desenvolver afinidades, tanto com os demais como com o negócio relacionado à sociedade.
Em qualquer momento se debruçar sobre essas questões ajuda a
fortalecer uma sociedade que conduz um negócio. Portanto, mais ainda quando
essa sociedade é nova ou seus sócios são jovens.
Não tratar com atenção das relações entre sócios é semear conflitos que serão
colhidos no futuro.
Com entendimento quanto aos propósitos da sociedade e os de
cada sócio, transparência quanto a interesses e clareza da visão de mundo, de
crenças e ideologias, o acordo de sócios torna-se natural e legítimo, uma vez
que decorre de um amplo entendimento de indivíduos alinhados.
A bom alinhamento funciona como um eficaz catalizador para
criação do desenho de futuro.
O Acordo de Sócios tende a preservar interesses e
questões individuais agregando-as ao grupo que se beneficiará do conjunto e da
integração desses indivíduos.
Uma relação bem constituída entre sócios cria condições de
potencializar as qualidades individuas e formando um grupo que vai além da soma
de habilidades individuais. A sociedade passa a ter suas próprias
características com as quais as pessoas se identificam. Gera identidade.
O bom entendimento e o fortalecimento das afinidades, aliados
a um sonho comum, cria sinergia que contribui para o sucesso do negócio.
Quando o clima é bom entre o grupo de sócios, os problemas são
mais naturalmente equacionados e as crises externas são superadas com mais
vigor. Há mais tolerância às opiniões diferentes, a argumentação se torna mais
eficaz. Pautar e tratar os temas delicados fica facilitado.
A empresa se torna mais inovadora e mais dinâmica. A relação
de confiança se fortalece liberando os sócios de tensões do relacionamento e
possibilitando prioridade aos temas estratégicos. A dedicação de cada um é mais
contributiva e colaborativa.
Conclusão
Refletir sobre a contribuição de cada um à sociedade fortalece
o grupo de sócios em torno do que é importante, superando detalhes
irrelevantes. Principalmente quando, além de sócios, há relação pessoal a ser
preservada.
Pode ser que o final dessa reflexão leve alguns a não se ver mais
como sócio. Ou ainda querer participar dos objetivos de outra forma, como
parceiro ou empregado da empresa. Ou ainda, afastar-se e dedicar-se a outra
atividade ou outra sociedade. Manter-se como sócio e afastar-se da gestão. São
possibilidades.
Essas considerações são destinadas ao trabalho entendido como Alinhamento de Sócios. Trata-se de um
passo importante para o fortalecimento da sociedade. Nesse alinhamento o foco é
dirigido à relação entre sócios. Naturalmente não esgota o assunto, pois como
toda relação humana, as que se formam entre sócios são dinâmicas e influenciadas
pelos acontecimentos.
Além disso, é necessário considerar todo o universo em torno
da constituição ou revisão de um negócio, o que exige outras abordagens
destinadas à estruturação, estratégia, profissionalização, governança e
operação de uma empresa.
* Paulo Muro é sócio da Extrato
Desenvolvimento de Indivíduos e Organizações.
Atua na facilitação de
alinhamento de sócios, sucessão,
desenvolvimento da governança, na maturidade da gestão de empresas
e no apoio ao pensamento estratégico dos negócios.
Criou e conduz o programa PRISMA, mentoria para repensar a atuação
profissional.
É mestre em administração e titular da cadeira 7 da
Academia Brasileira Rotária de Letras do Paraná – ABROL-PR
[1] Sociedade nesse contexto refere-se a
um grupo de sócios. Não deve ser confundido com a conotação ampla de sociedade
como uma nação ou comunidade.
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